21 de junho de 2007

MADAME V.

As aventuras amorosas de mr. R
MADAME V.
Caminhava tranqüilo pelas calçadas monocromáticas da cidade de São Paulo, estava um noite agradável, os prédios desenhavam o céu azul escuro, havia poucas pessoas na rua. Meu destino, o Súbita, um cabaré caindo aos pedaços escondidos numa dessas travessas da rua Augusta, apesar da idade denunciada nos trincos nas paredes, a tinha descascada e a fiação a mostra, aquelas paredes vermelhas escuras e seus retratos de personalidades de Hollywood tinha um certo charme.

Entre acenos e comprimentos, me encaminhava para meu lugar cativo e logo tenho servido minha habitual dose de conhaque.

- Alguma novidade?
- Não.
- Alguma pequena nova?
- Também não.
- Esse lugar já foi melhor.
- Você fala isso todos os dias.
- Outra dose.

De onde estava, podia observar as garotas divertirem os boêmios da megalópole. Entre sorrisos e caricias, elas imergiam das pernas dos cães da guarda da sociedade rica paulista. Essas garotas. As garotas engordavam diariamente o pequeno lucro do cabaré. Em outro canto uma cena comum, mais um homem sendo sugado por uma ninfa. Assistir aquela cena me agradava, ficava imaginando aquela garota colada no meu corpo, sentindo aquela vag...

- Oi.

Aquela voz me trousse de volta a realidade.
Ela era clara, olhos negros, os cabelos lisos num tom avermelhado desciam até o meio das costas, ela estava sentada do meu lado. Pediu uma dose de conhaque, olhou para mim como se fosse o único homem daquele lugar. Trajava um vestido amarelo, colado ao corpo, podia ver cada curva do corpo torneado. Me olhava com a displicência de quem quer se divertir.

- Oi.

Mais uma vez estava sendo puxado para a realidade. Imaginar aquela mulher nua em pelo me deixou sem graça naquele momento.

- Oi.
- O que faz aqui?
- Resolveu falar, pensei que uma gata tinha mordida a sua língua.
- O que faz aqui, você ainda não respondeu?

Ela puxou da bolsa em seu colo, uma cigarreira. Ao pensar em levar o cigarro a boca, já estava com a chama do meu isqueiro contornando o seu rosto. Ela aceitou o meu fogo, tragou com o prazer de um orgasmo.

- Estava passando e resolvi entrar.
- Mas aqui é um prostíbulo.
- Eu sei.

Silêncio

- Nunca te vi por aqui. É uma das garotas novas?
- Já disse que estava passando e resolvi entrar! Será que num prostíbulo existem apenas mulheres sendo oferecidas.
- É que

O silêncio agora era ensurdecedor. Suas respostas me desconcertavam.

- Aqui não é lugar pra moças de família.
- E quem disse que eu sou de família?

Aquele sorriso. Malicioso.
Ela estava me tirando do sério, suas respostas me instigavam e ao mesmo tempo me motivavam a entrar naquele jogo. Cartas na mesa, olhos tentados a não fugir do confronto. Na boca batom claro, quase imperceptível, contornavam uma boca pequena, suave, que parecia nunca ter sido beijada. O seu perfume.

- E você o que faz aqui?
- Vim beber.
- Não fica com nenhuma dessas garotas?
- As vezes, mas hoje não quero ficar com nenhuma delas.
- Não!?
- Quer ficar com quem?
- Estive pensando em uma garota vestida de amarelo.
- Quem? Aquele ali?
- Não.

Tentei me aproximar, minha respiração já estava acelerada e denunciava meu nervosismo. Me aproximei mais, tentei beijá-la, mas ela esquivou e me abriu um sorriso de criança que acabava de fazer arte.

- Presumo que essa garota seja eu.
- Sim.
- Mas com essa conversinha, vai ser difícil.
- Que conversinha?
- Não se faça de bobo! Quero um conhaque.
- Ser um conhaque pra ela.

Poderia passar a noite vendo ela beber aquela taça de conhaque.

- O que veio procurar essa noite?
- Diversão.
- Que tipo de diversão?
- Pensei em dois corpos.
- Gosto.
- Pensei também em suor.
??? Não consegui falar nada.
- Talvez. Talvez eu dançando nua.
!!! Estava ficando cada vez mais quente.
- Quem sabe eu de quatro esperando

Não pensei duas vezes, levei minhas mãos trêmulas até sua perna. A danada as abriu de modo convidativo, meus dedos percorriam suas coxas. Ela as fechou. Balança negativamente o dedo indicador. Mergulhei de cabeça naquele jogo. Me aproximei e fui soprando lentamente em seu ouvido.

- Pensei também (disse sussurrando para ela)
- No que!?
- Em te amarrar na minha cama e beijar seu lábios até sentir seu corpo tremendo na minha boca.

Ela me puxou e me deu um beijo mais intenso que recebi até hoje. Sentia sua língua descobrindo cada pedaço da minha boca. Não estava acreditando. Pensava eu, será que tudo isso está acontecendo realmente, devo acordar bêbado e com dor de cabeça a qualquer minuto, tudo que acontecerá até aqui parece o roteiro dessas histórias baratas de folhetins vendidos em bancas de jornal.

Sem hesitar beije-lhe o pescoço, mordia a sua orelha e sentia cada vez mais minha excitação explodir dentro das calças.

- Preciso ir.
- O que?
- Tenho que ir.
- Pra onde?
- Não importa, pra longe apenas.
- Você não pode?
- O que não posso?
- Seu endereço pelo menos.
- Eu te procuro!
- Me dá o seu endereço.

Ela saiu caminhando rápido, desviando das pessoas que cambaleavam pelo cabaré, quando consegui levantar, a embriaguez me venceu, senti a tontura de 4 doses de conhaque. Cambaleante tentei sair, mas o segurança me barrou.

- Não vai pagar?
- Claro.
- Preciso falar com ela, já voltou e pago.
- Pague primeiro.
- É rápido, já volto e acerto.
- Só vai sair após o pagamento.
- Você me conhece, sabe que venho aqui sempre, é rápido, já volto
- O pagamento.

Tirei um maço de notas da carteira, tinha muito dinheiro, não podia me dar o luxo de deixar o troco pra eles. Quando consegui sair já era tarde, nem vestígio daquela mulher. Fiquei ali, sentando na guia, pensando, naquela noite. Não sei seu nome, seu endereço, lembro apenas do seu rosto e daquele beijo.
continua...

13 de junho de 2007

MADAME V

"As aventuras amorosas de Mr R"
# MADAME V.
Posso sentir o cheiro da chuva que cessou a pouco. Saltando entre uma poça e outra, sou mais um a procura de abrigo para uma noite fria. Amigos tenho poucos, nunca fui muito de relacionamentos, preferi ficar distante observando e ouvindo, talvez por isso esteja nessa profissão. Sou detetive, porém sem o glamour dos filmes de 20. Vivo me esgueirando entre maridos infiéis, becos escuros, banco de carros, lixo, muito lixo e um detalhe importante há muito não tenho clientes.

Entre os rostos cobertos por guardas chuvas, tudo pra mim é evidência menos a mais clara que todas finjo não enxergar “Eu sou um fracassado

Minha diversão garanto na noite, nas curvas suntuosas dos prostíbulos de São Paulo. O cheiro de sexo me excita e com uma mulher em meus braços me sinto um garanhão. Sinto o toque o suave dos seus lábios no meu pênis e isso me leva a loucura. Amor garantido por 30 minutos quiçá 1 hora, ou quem sabe até o próximo cliente bater a porta.
A cidade de São Paulo picadeiro da minha triste história, cresce em ritmo alucinante e o céu não é mais o limite, o próprio nome diz: “arranha céu” e a cidade a cada dia fica mais feia, mais alta e mais cinza. Os imigrantes não param de chegar, sotaques nortistas misturados a outros idiomas, ditam o ritmo frenético ao qual essa cidade cresce. Acho que ela é a única que leva o lema desse país a sério “Ordem e Progresso”. Vejo São Paulo como a maior das prostitutas, uma eterna senhora elegante, bonita e soberba com as pernas sempre abertas pronta para receber o falo de quem possa afagar sua vaidade. Descarada! Santa puta descarada!

Estou a caminho de um bar de conhecidos desconhecidos, lá a conversa e teorias de um ano 2000 quase 40 anos distantes parecem tão loucos quanto o copo de conhaque possa permitir.
Essa é a minha rotina.
8:00 horas chego em meu escritório na Av. Augusta, da janela vejo os ônibus passando, levando operários enganados pelo sonho de riqueza. Papeis velhos se amontoam em cima de uma escrivaninha num canto da sala, na parede um mapa da cidade, do outro lado uma vitrola velha com o mesmo disco de Cartola que de tão riscado já não toca mais.
As 20 deixo meu quartel general em busca dela, sempre dela, a vida noturna.
De bar em bar, de putero em putero, me permito gastar um pouco da herança deixada por um velho e querido tio, que não jaz entre nós. O Incentivador frustrado da minha curta carreira de estudante de direito , a carreira promissora que abandonei por conta da apaixonante e folclórica rotina de detetive.

Até agora não me apresentei, sou avesso a essas formalidades, quanto menos me conhecer, menos transparente fico, mas elas, sempre elas, me chamam de “R”. O porquê desse nome não sei, mas ele me confere um certo charme que não tenho. Como R posso me transportar para qualquer ser, para qualquer personalidade. Qualquer um pode ser R e por isso não reclamo por ser lembrado apenas por essa consoante.

Sem mais delongas.
Hoje seria um dia comum se não fosse por um fato.
continua...