16 de maio de 2007

1.1 OS PRIMEIROS BEIJOS...

Não foi dessa vez que o primeiro beijo de R aconteceu. Mas a sensação do que quase beijo ficou nos pensamentos do rapaz por alguns dias. Os comentários dos amigos não o deixa esquecer também.

Por que não foi?
Porque não, oras!
Mas tava quase indo.
Mas num foi!
Por que não foi?
Já falei que porque não caramba!
Mas devia ter ido.
Mas num foi!
Mas o que aconteceu?
Num aconteceu.
Se preocupa não sábado que vem tem bailinho de novo.
Tem mesmo?
Tem sim, enquanto você não beijou o Jr, beijou.
Ele beijou quem?
Beijou a C.
Mas você num beijou!
Não precisa ficar lembrando toda hora também.
Mas sábado se beija!
Por que só sábado?
Porque só vai ter bailinho no sábado!
CARALHO!!!!
Mas sábado eu vou pra casa.
Fazer o que na sua casa?
Ué, minha mãe mandou eu ir pra casa, vai saber o que eu vou fazer em casa!
Agente dá um jeito então.
Dá um jeito pra quê?
Pra você beijar!
Mas por que eu?
Porque todo mundo já beijou!
TODO MUNDO?
Se ta mentindo!?
To nada, até eu já beijei!
QUEM!?
Você não conhece, é la da escola!
BEJO NADA!?
BEIJEI SIM!!!
BEJO NADA!? Fala o nome dela então!!!!
Num preciso falar, você não conhece, e quem não beijou foi você.

Como assim todo mundo já beijou indaga a sí mesmo. Não é verdade. Nem ligo é só um beijo mesmo!

A noite não foi a mais tranqüila pra R, entre intervalo de um sonho e outro, boca, bocas, bocões, boquinhas, bencinhos, risadas, dedos apontados, estalos de beijos, casais enamorados, olhos apaixonados, mãos dadas, beijocas, beijoqueiras, até mesmo o amigo mais feinho do mundo inteiro, estava lá, abraçado a alguém trocando beijos. Maldito primeiro beijo!

Lá estava R, tentando não admitir que essa história de primeiro beijo não o incomodava. Engano-seu! O incomodava e muito!

Ele tentou não dar muita atenção para o quase primeiro beijo, mas tinha um caminho com uma menina, e ela era amiga de R, e também quase participará do primeiro beijo.

Oi!
Oi!
Tudo bem?
Tudo!
Foi legal o baile!
Foi!
Até que você num dança mal!
Baile idiota!
O que?
Ah! Uhum! O que, o que? Ah! Shi, é tosse tosse, então, Sim, uhum hum! Nada não, pensei alto!
Pensou o que?
Pensei, quem disse que eu pensei?
Você!?
Não, não, num pensei não, engano seu!
Ah, ta!
Você vem sábado?
Venho? Venho onde?
No baile o cabeçudo? Ta com a cabeça longe é? Ta pensando no que?
No beijo!
O que?
É, então, sim, é, pensando, ahammm, cabeça? Uhumm! Você me chamou de cabeçudo foi?
Não muda de assunto! O que disse?
Eu disse nada. Disse que sábado não vai dar, vou ter que ir pra casa.
Mas e o beijo?
Beijo? Que beijo? Olha a pipa!!! E correu olhando pro alto e deixando aquela conversa para trás.

Passado duas semanas, lá estava R, com sua inseparável mochila cinza e preta nas costas, algumas cuecas, alguns shorts, camisetas e ansioso pelas brincadeiras na casa da avó. Mas não eram as brincadeiras que faziam o corpo de R tremer de excitação com as ruas que ficavam pra trás. Lá ele encontraria novamente com ela. O beijo nem importava tanto, mas estar perto dela, ouvir ela reclamando de tudo, brigando com todo mundo, querendo jogar futebol com os meninos, e fazendo cara de brava por que eles não deixavam era tudo que R queria ver. Sem perceber esse foi o primeiro amor de R.

Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Ow Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Fala!
Vamo pro campinho!
Faze?
Vamo pro campinho, o Jr falo que tem uma brincadeira nova pra gente!
Num quero!
Ele disse que é pra você ih!
Mas to vendo TV.
Desliga vamo pro campinho, se sabe que as brincadeiras do Jr, são sempre legais!

(Jr era o mais velho da turma, já estava na 6º série, era grandão e sabia das coisas. Ele era legal porque sempre defendia agente do pessoal da rua de baixo. E era um amigão também, um cara que dava pra confiar)

Caramba! Pensei que não você não vinha!

Sem entender muito bem, R estava ao lado de outros meninos todos perfilados e com um sorrizinho malicioso no rosto. Distante dali estavam o grupo das meninas, todas sentadas observando a brincadeira. Por algum motivo, R percebeu que só ele não tinha brincado daquilo até então. Jr fechava os olhos da H e apontava para os rapazes.

Esse?
Não
Esse?
Não
É esse?
Não
Então é esse?
Também não!
É esse?
É!
O que você quer?
Passeio no bosque!

?Passeio no bosque? Que diabos é isso? Aqui nem tem bosque!

H fez cara de quem não gostou muito da escolha, ela tinha pego o F, um cara legal, mas baixinho e gordinho. Logo estavam os dois de mão dada andando pelo campinho como se tivessem passeando pelo bosque.

Mas que coisa mais sem graça!

Agora é a vez das meninas!

RO, vem pra cá, você que vai escolher a sortuda, falava Jr para o RO.

E a brincadeira eram assim:
Beijo (beijo no rosto)
Abraço (abraço de dois minutos)
Aperto de mão (apertão de mão mesmo)
Passeio no bosque (ficar andando por um canto pelo tempo que acharem legal)


Logo a brincadeira estava se tornando tediosa! Passeio no bosque não era a coisa mais interessante do mundo e quem R gostaria que estivesse participando tinha ido ao dentista naquela tarde.

Sábio Jr! Havia guardado o melhor da brincadeira para mais tarde.

De repente a calma do campinho foi interrompida com a chegada de MC, C e ela! L, todos muito alegres, sorridentes. Com o coração na boca R observava ela vindo em sua direção, linda, sorridente, balançando o cabelo para lá e para cá.

Que bom que vocês chegaram!
Tão brincando do que?
Sei não.
Só sei que tem que levar pra passear no bosque!
Ah!
Até que legal!
Agente pode andar de mão dada (era o que R mais queria)
Eu e você?
Não, é, sim, então, simmm, shi, é mesmo, na brincadeira, na brincadeira, quis dizer na brincadeira.
Então vamos brincar.

A brincadeira é a mesma! Só que vamos melhorar ela um pouco.
Ah! Como?

Agora é assim:
Pêra (abraço)
Uva (beijo no rosto)
Maça (beijo selinho)
Salada mista (beijo de língua)

Mais animado do que nunca estavam todos perfilados novamente, agora meninos e meninas um do lado do outro, intercalados. Jr tomava cuidado para pular o sexo oposto. E apontava para o outro seguido da pergunta: É esse? Sim? Pêra? Uva? Maça? Salada Mista? Sempre que o dedo era apontado para L, R torcia para que a resposta fosse negativa e aguardava ansioso para sua vez de escolher a vitima do seu primeiro beijo!

A vez de R chegou, de olhos cobertos, ele ouvia os risinhos de todos e o é esse que Jr repetia, ele tinha marcado bem a posição da L, e após contar as negativas, chegou a hora.

É essa?
Sim
O que você quer?
Uva!

Quando abriu o olho la estava G. A menina mais feia de todo o quarteirão. Que sorria para R, como se tivesse ganhando um pacote de balas juquinha e o troco do super mercado. Com a cara mais descontente do mundo e aos gritos de beija, beija, beija a menina fazia um certo charme de quem não quer, querendo o beijo já anunciado. O consolo de R, fora a escolha do uva, que o sentenciava apenas para o beijo no rosto!

Smack!

E assim foi o beijo no rosto de G. Se existisse um campeonato de quem desse o beijo no rosto mais rápido do mundo. R o ganharia. Já era possível ver ele pulando e comemorando com a medalha no peito. A técnica da vitória é pensar na G, não tem como alguém dar um beijo com mais de 1 segundo no rosto dela, repetia contente para os repórteres.

De volta a realidade estavam eles perfilados novamente. R, RO, MC, D, C, A, CL no time dos homens, L, C, H, G, A, V, VA, D no time das meninas. Agora era a vez da L escolher o sortudo que poderia ganhar o prêmio máximo: A SALADA MISTA,

Esse nome deve ter sido escolhido, porque deve ficar tudo misturado na hora do beijo, a língua, a baba, os sentimentos. Pensava R

Sim! Sim, sim o que? Eu? Eu o que? Escolhido? Escolhido pela L? Eu? EU? O que? UVA? (Uva é o que mesmo) E de repente um beijo.

Um beijo quente, rápido e capaz de deixar R mais vermelho que pimentão da feira!

Assim se seguiu a brincadeira. Mais animado e feliz com por ter sido escolhido. Nosso pequeno herói combinou uma tática com JR, ele faria uma pequena pressão nos olhos de R quando ele passasse pela L. Plano armado!

Sim! É essa! Maça!

Vermelha, sem graça e com um sorriso tímido, L tentava esconder o rosto entre o cabelo, mas R estava confiante, ela não recusaria o beijo de R. Ele de frente pra ela, ela olhando pra ele, vento assobiando o mato em volta do campinho, o sorriso maldoso de todo mundo em volta, os gritos de beija, beija, beija mais entusiasmado. Boca, olhos na boca, R só tinha olhos para a boca, pequena, com um batom rosa clarinho, ele ia se aproximando devagar, boca, olhos semi abertos, boca, L, R, boca, R, L, boca, coração acelerado, R, boca, L, boca, respiração, R L, boca, boca, boca, e beijo! Quente, molhado e rápido, uma fração de segundos de um lábio encostado no outro, os milionésimos de segundos mais demorados do mundo.

Enfim o primeiro beijo de R. Para ser mais exato os 41 primeiros beijos maças de R, entre apertões, assobios, empurrões, pisões no pé, catucadas, tosses, aconteceram os 41 primeiros beijos de R. Assim como fogo em mato seco, a noticia dos 41 se espalharia com menos rapidez que:

É essa?
Sim!
O que você quer?
Pêra? Uva? Maça? Salada mista?

"SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA, SALADA MISTA"

Finalmente o primeiro beijo!

Isso! Salada Mista!

Tudo pronto! Mãos suando, pernas fracas, pensamentos confusos, barulhos surdos no ouvido, o tempo girando devagar. L estava mais linda do que nunca naquela tarde, estava com um vestido vermelho até o joelho, os cabelos castanhos soltos, o rosto levemente rosado. R segurou a mão de L, que também tremia de ansiedade, o nervosismo era visto no rosto do dois, os olhares sem graça e cúmplice não desviam por nenhum momento. R começava a se aproximar de L, devagar, na cabeça um turbilhão de pensamentos, aquela boca que habitava seus sonhos estava cada vez mais próxima.

Não!
Não?
Não!
Não o que?
Eu não quero!
Não quer?
Não, não quero! Não quero! NÃO QUERO!
Por que?
NÃO! Me solta!
O que?
Não quero!

Um misto de vergonha e tristeza percorria todo o corpo de R, ele não entendia nada o que estava acontecendo, só conseguia lembrar dos outros 41 beijos, como ela não poderia correr. O fora anunciado por ela, estava doendo na sua cabeça berrando, ele se perguntava por que não? Sem pensar muito! Ele fez a primeira coisa que veio a sua cabeça naquele momento! Correu, correu, correu e correu para o mais longe que suas pernas pudessem o levar!

Um comentário:

_Ton_ disse...

cara.... que maldade...
O melhor dessas brincaderas era realmente a mutreta combinada antes....todo mundo sabia que tinha, mas ninguem falava nada, porque a brincadera era na verdade uma forma de mascarar os desejos, não?
Outra coisa que me recordo era a expectativa de, quando a menina te escolhesse, ela tbm tivesse combinado uma mutreta.... ai estava tudo em casa.