4 de novembro de 2007

MADAME V.

As aventuras amorosas de mr R

Madame V.


Tic...
17:00, perdi a conta de quantas vezes procurei respostas no relógio.
Tac...
17:08, os minutos são sufocantes.
Tic...
17:20, maldito o homem que fracionou o tempo.
Tac...
17:39, prometo não olhar mais para os tics.

O som do relógio me enlouqueceria, minha batalha particular contra a ansiedade a muito estava perdida. Nesse duelo de tacs, o tempo joga sujo, lento, devagar, sufocando, rindo de mim a cada milionésimo de segundos. Convenções. Ah! CONVENÇÕES pra que te – las. Os minutos sãos cruéis tripudiam de mim, posso vê-los saltando da parede e rirem na minha cara.

Você perdeu!
Você é meu refém!
Sua risada não é malévola, não grave muito menos aguda, seu sorriso é malicioso, me olha displicente, goza de mim.

Nunca desejei tanto por um número exato que não fosse as cifras do meu morto tio. 20:00 horas o relógio continuaria me atormentando até as 20:00 horas. Vou parar por aqui, já me faltam palavras pra descrever minha impaciência.

17:40, ouço o barulho do assoalho rangendo a cada passo meu.
17:42, o cheiro da poeira me incomoda.
17:45.
18:00.
18:09

Não consigo controlar o suor das minhas mãos. Minha testa franzida lembra a persiana que abri e fechei inúmeras vezes. Minhas mãos teimam em bagunçar o meu cabelo. Traac! Traac! Um a um meus dedos são estalados. Parararararararara tamborilam a mesa meus dedos. Tic tac, o silêncio berra ao meu ouvido. Tic tac a mosca zuni tranqüila pela sala. Tic tac meus pés dançam impacientes. Tic Tac afrouxo o nó da gravata. Tic a rua continua deserta. Tac a porta range. Tic releio o jornal. Tic Tac empurro meu corpo na cadeira. Tic tac tic escuto meu coração pulsar. Tic tac

CHEGAAAA!!!

Desci dois lances de escada e lá estava ela, enchendo meu pulmão de ar, entupindo meus ouvidos de timbres, e a caminho do Súbita pararia em outro bar e esperaria que meu mais íntimo amigo abrisse as portas. Na rua a loucura cronometrada não mais teria uma vítima.

O movimento das pessoas inertes ao meu problema, fez com que eu não sentisse a hora passar. Olhar para cada uma delas e criar uma história era o que eu fazia melhor. Lá vai o pai de família apressado para encontrar a vizinha. Aquele menino não engana foi ele quem quebrou a vidraça do senhor da esquina. Recata, sim eu também sou. 21:30 marcava o relógio, tomei meu ultimo gole, alinhei-me com um lord e percorri calmamente a estrada dos tijolos de ouro.

Sentado mais uma noite no mesmo lugar, tentei ser paciente, mas a cada novo ruído meu corpo inteiro se virava pra porta. Nessa noite não beberia, tinha que manter a sanidade até a sua chegada que não aconteceu. 1:00 hora cansado de esperar e sem paciência para minhas pequenas, levantei-me e subiria sozinho pela Augusta que fervia sexo. Os convites das putas por vezes eram tentadores mas não tinha animo para qualquer tipo de flerte.

Ao dobrar a esquina da Av Paulista esbarro em uma moça que andava de cabeça baixa. Nosso encontro repentino a fez deixar cair sua bolsa. Abaixei para pega-la, mas ela foi mais rápida do que eu e inexplicavelmente tentou correr. Nesse momento meu instinto falou mais rápido, queria me desculpar, segurei-a pelo braço. Irritada, quando começou a esbravejar reconheci aquela boca que havia me beijado dois dias atrás. Por mais clichê que possa ter sido, esse foi nosso segundo encontro.

- Você! Qual o seu nome?
- V.
- V?
- V!!!
- Não me interessa seu nome. Me interessa você. Por que fugiu aquele dia?
- Não posso conversar.
- Espera!
- Tenho que ir.

Pude notar em sua mão esquerda uma aliança fina e dourada, e que apunhalava sem dó minhas esperanças.

- 1 minuto! Não consegui pensar em outra coisa a não ser você.
- Estou com pressa, já deveria estar em casa.
- Eu te acompanho.
- Não!
- É perigoso e agente pode conversar no caminho.
- Não tenho medo e não tenho nada pra conversar. Tchau!
- Espera.

A puxei e antes mesmo que ela pudesse esboçar qualquer reação a beijei.

- Meu cartão. Tem o endereço do meu escritório, me procura.

Sem olhar para trás aquela ilustre desconhecida, carrasca de sentimentos alheios, não se estremeceu com meu beijo, não me olhou nos olhos, apenas disse tchau e tomou o caminho de casa. Não entendo por que não a segui. Fiquei imóvel, estático paralisado junto com a Paulista deserta, vendo-a sumir. Entenderia ali naquele momento o que paixão, meus atos até esse momento só poderiam ser de um homem apaixonado, incapaz de ser racional e com apenas uma ponta de remorso, pois, começava a entender os maridos histéricos, as esposas chorosas que procuravam seu escritório. Empatia. Pela primeira vez essa palavra teve algum significado.

Pensei que aquele cartão seria meu elo de ligação com aquela desconhecida que teimava em me visitar durante os sonhos. Confesso! Desde nosso primeiro encontro estou enfeitiçado. Aquele pequeno pedaço de papel que continha meu nome, meu endereço e minhas esperanças, era minha chance de te-la ao meu lado mais uma vez. 5 meses de idas ao Súbita, milhares de doses de conhaques, infinitos Tic´s Tac´s, caminhas noturnas pela Augusta com a Paulista. E nem sinal dela.

- Grande detetive eu sou!



continua...

2 comentários:

Unknown disse...

Essa historia está cada vez mais misteriosa...rsrsr...Bem sua cara mesmo....hehehe...Estou adorando...Bjs

Anônimo disse...

:o
Tô bege!!

Vê posta a outra parte logo!
Já tô ansiosa!!
hehehehe

Beeeeeeeeeeeeeeeeeeijos!!!